O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (30), em entrevista exclusiva ao Jornal da Paraíba, que vai fazer ‘o que for necessário’ para concluir obras paradas no âmbito da educação, no estado. Ele desembarcou em João Pessoa nesta quinta-feira (29) e hoje participa de inaugurações e anúncios de investimentos.
“As obras que não foram concluídas no tempo do Temer e de Bolsonaro, nós vamos fazer o que for necessário para concluir, se for necessário fazer novas licitações, nós faremos, mas isso não vai nos impedir de também garantir a expansão da rede de Ensino técnico federal, que é muito importante para o desenvolvimento do interior do estado”, disse.
Lula desembarcou no Estado para a inauguração do segundo lote das Vertentes Litorâneas, em Riachão do Poço, e o anúncio de investimentos do Governo Federal no Centro de Convenções, em João Pessoa. O petista desembarcou ontem à noite, no Aeroporto Castro Pinto, e foi recebido pelo governador João Azevêdo (PSB) e parlamentares.
De acordo com agenda divulgada pela Secretaria de Comunicação Institucional da Presidência da República, a inauguração do segundo lote das Vertentes está prevista para ocorrer às 10h. Já às 11h45 está marcada a cerimônia de anúncios de investimentos do Governo Federal para a Paraíba, no Centro de Convenções, nas áreas de recursos hídricos, habitação e educação.
Na entrevista exclusiva ao Jornal da Paraíba, Lula falou sobre investimentos na educação, obras do PAC e Eleições 2024. Ele considerou natural o apoio à candidatura de Luciano Cartaxo à Prefeitura de João Pessoa. “Eu sou do PT, e é normal que mesmo sendo presidente, eu possa apoiar um candidato do PT. Da mesma forma que o governador, que é meu aliado e de outro partido, pode apoiar outro candidato”, disse.
Confira abaixo a entrevista ao Jornal da Paraíba.
1. A agenda do senhor na Paraíba é a segunda no seu atual mandato, mas a primeira em que teremos anúncios de investimentos. Que investimentos e quais são as áreas que serão contempladas pelo governo federal no estado?
A primeira coisa que eu fiz, quando eu assumi o governo, em janeiro do ano passado, foi reunir os governadores dos 27 estados para definirmos juntos os investimentos em cada um deles. O governador João Azevedo participou da construção do PAC, que prevê investimentos de mais de 11 bilhões de reais na Paraíba. Obras como a duplicação da BR-230 e o Hospital de Clínicas e Traumatologia em Patos. E esse ano anunciamos o PAC Seleções, atendendo projetos das prefeituras, com 42 escolas de tempo integral, 31 creches, unidades básicas de saúde e o financiamento de 21 mil casas do Minha Casa Minha Vida. Estamos voltando com o investimento federal na Paraíba.
2. Entre os anúncios, apuramos que vai haver o lançamento da pedra fundamental de três novos campi do IFPB, em Sapé, Queimadas e Mamanguape. Ninguém nega a importância dessas unidades para o desenvolvimento das regiões. Mas a UFPB, que também está sob o guarda-chuva do Ministério da Educação, tem um cemitério de obras paradas que começaram e pararam no governo Lula Dilma. São 28 grandes obras. Alguns terão que ser destruídas porque já estão totalmente deterioradas. Não é mais importante, agora, resolver os problemas das obras paralisadas do que anunciar novas na mesma área?
As obras que não foram concluídas no tempo do Temer e de Bolsonaro, nós vamos fazer o que for necessário para concluir, se for necessário fazer novas licitações, nós faremos, mas isso não vai nos impedir de também garantir a expansão da rede de Ensino técnico federal, que é muito importante para o desenvolvimento do interior do estado.
No caso das obras da UFPB, por exemplo, as do Hospital Universitário Lauro Wanderley já foram incluídas no Novo PAC e estão em processo de licitação. Temos a determinação de concluir tudo o que precisar ser concluído.
3. As obras de triplicação da BR-230, entre Cabedelo e João Pessoa, foram iniciadas em 2017 e sofreram inúmeras interrupções, por falta de verba ou problemas com a empresa licitada. A verba liberada este ano serve apenas para intervenções remanescentes entre o 2 km até o 13 km (em frente à Mata da Amém), área de Cabedelo. Há previsão de incluir a obra no Orçamento Geral da União como prioridade, para além das verbas esparsas enviadas através de emendas impositivas?
É importante anotar que o Ministério dos Transportes vai investir R$ 500 milhões em rodovias apenas em 2024 na Paraíba. A título de comparação, isso é quatro vezes mais que o valor investido em 2022, no último ano do governo anterior. A triplicação da BR-230 estava paralisada, o que gerava muitos acidentes na região de Cabedelo. A obra teve que passar por uma nova licitação e já foi retomada. Com mais investimento, a avaliação de malha viária da Paraíba vem melhorando. Era de 54% a avaliação positiva das estradas do estado no fim de 2022. No último levantamento, de julho deste ano, subiu para 79%.
4. A Paraíba vive em estado de alerta e preocupação com a ascensão de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas, dominando comunidades e interferindo na liberdade dos moradores. Há uma atenção especial, atualmente, de que essa interferência tenha repercussão no resultado das urnas. A Paraíba não padece desse problema sozinha. Qual é o planejamento integrado do Governo Federal para uma ação nacional mais eficaz?
O companheiro Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, está preparando uma proposta de segurança pública nacional, mas queremos ouvir os 27 governadores para construir um compromisso de todos os entes federados para juntos enfrentarmos o crime organizado. Não como uma proposta só do governo federal, mas compartilhada por todos.
5. A Transposição do São Francisco sempre foi um sonho da população do Nordeste. E foi no seu Governo que a obra começou a sair do papel. A obra física aqui na Paraíba foi entregue em dois Eixos, mas por conta da não execução de obras complementares o projeto nunca funcionou em plenitude. Como o senhor avalia isso? Como o Governo Federal pode ajudar a tornar realidade, por exemplo, os projetos de agricultura familiar que nunca saíram do papel?
Nós queremos e vamos fazer a conclusão da transposição do São Francisco na sua plenitude. Queremos concluir isso de forma definitiva. E dentro dessa conclusão está essa finalidade de a água servir para a produção de alimentos saudáveis pelos trabalhadores da agricultura familiar. A transposição do São Francisco foi um projeto pensado ainda no século XIX por Dom Pedro II, mas foi só no meu governo que ela finalmente saiu do papel. Nós começamos e fizemos a maior parte dessa obra e vamos concluir os ramais e demais medidas necessárias.
6. Um ano após o lançamento, as obras do PAC andam a passos lento na Paraíba. Segundo dados da Casa Civil, a maioria dessas obras ainda não saiu do papel e estão em fase de “ação preparatória”. Outras estão em execução, mas seguem em ritmo lento. O que fazer para que todas as obras sejam entregues em tempo hábil e beneficiem a população?
As obras não estão a passos lentos. Essa adutora de Acauã-Araçagi, que eu estou inaugurando nessa sexta, para dar um exemplo, é uma obra do PAC que andou a passos largos desde que retornamos ao governo. Concluímos o primeiro e o segundo lotes da obra e o terceiro deve iniciar em breve. A adutora do Pajeú também está em obras. A BR-230, tanto no trecho da saída para Oitizeiro, e na saída de Campina Grande para Farinha, também estão com obras em andamento. E ainda vamos iniciar muitas obras do PAC Seleções, que teve o anúncio da escolha das obras em março e julho. São 349 obras em parceria com 120 municípios. Nada disso estava acontecendo no governo anterior, quando estava tudo parado e, agora, estamos retomando a capacidade de investimento do governo federal em parceria com o governo estadual e os municípios. O PAC está retomando um plano de obras estruturantes para a Paraíba.
7. O senhor é crítico ferrenho da taxa de juros mantida pelo Banco Central nos últimos dois anos. O novo indicado pelo senhor para a presidência do BC, Gabriel Galípolo, já falou que não terá medo de elevar as taxas de juros. Ele também votou pela manutenção da taxa de juros nas últimas reuniões do Copom. Como um indicado do senhor e com tanta pressão feita, uma mudança de postura dele não pode dar a impressão que a chamada independência do BC ficou comprometida?
Não. O presidente do Banco Central é aprovado pelo Senado e depois ele tem que cumprir metas. Eu fui presidente por oito anos antes de voltar e tenho certeza que o Henrique Meirelles, que foi meu presidente do Banco Central por oito anos, teve mais independência que o Campos Neto deve ter tido no governo anterior. Eu tenho esse histórico, essa experiência e esse compromisso de fazer o Brasil dar certo.
8. Nos EUA nós acompanhamos a renúncia do presidente Joe Biden (81 anos) em disputar a reeleição, por conta das críticas que vinha sofrendo em virtude da idade e também de questões cognitivas. O senhor tem hoje 78 anos e pode disputar a reeleição numa idade bem próxima da de Biden hoje. O senhor teme esse tipo de questionamento também? Está decidido a disputar a reeleição? Ou pensa em não disputar?
Eu estou vivendo o melhor momento da minha vida e determinado em fazer o meu melhor governo. Usar minha experiência e energia para o Brasil voltar a crescer, gerar renda, emprego. Quando chegar em 2026 eu vou discutir 2026 com o meu partido e os meus aliados.
9. Muitos apoiadores de primeira ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 seguem com cargos no Governo Federal. Em paralelo a isso, o Governo proíbe qualquer menção aos 60 anos do Golpe Militar e assume uma postura de franca conciliação com atores políticos que tramaram uma tentativa de golpe no período de transição. O senhor não acha que se paga um preço alto demais em nome de uma pretensa governabilidade?
O governo não tem conciliação com que tentou dar um golpe de estado. Isso é bem diferente de respeitar os que foram eleitos pelo povo brasileiro, seja nos governos dos estados, seja no parlamento. Respeitando, inclusive, o direito de discordarem. Eu não fico perguntando qual é o seu partido para governador, prefeito. Agora, aqueles que participaram de tentativa de golpe de estado, aqueles que agiram para destruir a democracia, esses têm que responder na Justiça pelos seus atos.
10. Na capital paraibana, temos duas candidaturas com apoiadores do senhor. A de Cícero Lucena, que tem um vice do PSB, indicado pelo governador João Azevêdo. A outra candidatura é de um petista, Luciano Cartaxo, a vice é também do PT, a empresária Amanda Rodrigues, esposa do ex-governador Ricardo Coutinho. Em que palanque o senhor estará? O senhor vai anunciar apoio claro a Cartaxo?
Eu sou do PT, e é normal que mesmo sendo presidente, eu possa apoiar um candidato do PT. Da mesma forma que o governador, que é meu aliado e de outro partido, pode apoiar outro candidato. E quem ganhar governa. Esse é o funcionamento normal da democracia.