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Escândalo financeiro faz Juventus sofrer impacto profundo dentro e fora de campo – 31/01/2023 | Diário do Grande ABC

O extracampo da Juventus voltou à tona no noticiário esportivo. Devido às fraudes fiscais na contratação de jogadores, o time italiano perdeu 15 pontos no Campeonato Italiano e teve dirigentes e ex-dirigentes suspensos, incluindo o ex-presidente Andrea Agnelli e o vice-presidente Pavel Nedved, que renunciaram aos cargos em dezembro do ano passado. O clube italiano vai recorrer da decisão.

Antes de ser sancionada pelo Tribunal Federal de Apelação da Federação Italiana de Futebol (FIGC), a Juventus foi absolvida, junto com outros clubes, em abril de 2022, na investigação de 62 transferências suspeitas realizadas entre 2018 e 2021. Pelo fato de o clube ser alvo em operações paralelas, com informações compartilhadas junto ao Ministério Público Italiano, promotores encontraram indícios de contabilidade falsa, manipulação de mercado e ausência de faturas de transferências entre 2019 e 2021.

A Juventus é uma empresa de capital aberto na bolsa de valores Euronext. O clube tentou ludibriar o mercado financeiro em algumas oportunidades, como o suposto acordo para redução salarial dos atletas e comissão técnica no início da pandemia, em março de 2020, mas que só teve validade por um mês. Depois das mais-valias nas contratações e discrepâncias nas finanças, a maior campeã italiana tem diversos desafios pela frente.

Jorge Braga, dirigente que liderou a reestruturação do Botafogo e a busca por um novo investidor, frisa os principais impactos sofridos pela Juventus por causa dos escândalos financeiros nos últimos dias. “Isso levou as ações do clube, que são listadas na bolsa italiana, a despencarem. Desde o início das investigações, o valor de mercado do clube-empresa caiu mais de 70%. Finalmente, vários jogadores foram suspensos e dirigentes receberam sentenças individuais, incluindo prisão e multas” afirmou Braga.

Sob nova direção pelos próximos três anos, agora comandada pelo contador Gianluca Ferrero, a Juventus está de olho nas questões comerciais. Segundo o relatório Football Money League 2023, da consultoria Deloitte, a Juventus foi o 11º clube de futebol no mundo com maior faturamento (400,6 milhões de euros), embora seja o primeiro entre times da Itália. Porém, o atual número indica diminuição de 8% das receitas da equipe em relação a 2021, quando faturou 433,1 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões). Esta foi também a primeira vez que a Juventus ficou fora do top 10 do relatório.

“As empresas devem realizar uma análise minuciosa antes de decidir se associar com uma equipe de futebol. A ideia é se beneficiar dos atributos. Não podemos julgar a história da Juventus por um determinado momento, mas sim por seu histórico e representatividade no futebol italiano e mundial”, disse Fábio Wolff, especialista em marketing esportivo e sócio-diretor da Wolff Sports.

Além da queda na arrecadação, o time também colecionou performances abaixo das expectativas nas competições. O clube italiano vinha de nove títulos após a Inter de Milão quebrar a hegemonia, em 2021. Na Liga dos Campeões, mesmo com a presença de Cristiano Ronaldo, a equipe sofreu eliminações nas oitavas de final para Villarreal, Porto e Lyon.

Para Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e em grandes negócios, com passagem pelo Cruzeiro como diretor do departamento comercial, toda notícia negativa, como o caso da Juventus, por exemplo, gera um impacto direto e automático na retenção e prospecção de marcas patrocinadoras.

“Me lembro bem e senti na pele o momento da maior crise da história do Cruzeiro, e como gestor das áreas de marketing e negócios do clube, tive de trabalhar as duas frentes simultâneas para não perder os patrocínios que estavam lá e ainda buscar novas marcas. Nos dois anos seguintes, em 2019 e 2020, mesmo com a crise e pandemia instauradas, conseguimos não perder nenhuma marca e ainda bater dois recordes consecutivos de receitas. Nada supera o suor do trabalho com a transparência e a relação próxima e verdadeira com as marcas”, afirmou Rene.

O executivo ainda ressalta a importância dos profissionais, que cuidam de setores tão importantes das instituições, trabalharem na prevenção dessas turbulências que acontecem no meio esportivo. “No futebol, lidamos com paixões, e para as crises que não são previstas, agir com transparência e proximidade às marcas são medidas fundamentais; nada supera o profissionalismo e a verdade nesta relação de trabalho.”