Falta de atenção, inquietação, impulsividade. Imagina viver o tempo todo como se lutasse para conseguir de concentrar em algo? Esta é a realidade de quem tem o TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) são mais de 10 milhões de pessoas no Brasil diagnosticadas com o transtorno, mas esse número pode ser ainda maior, já que nem todo mundo que sofre com os sintomas consegue chegar ao diagnóstico.
O transtorno do neurodesenvolvimento pode aparecer ainda na infância. Foi a partir de alguns comportamentos que Paola Maia acendeu o alerta e buscou entender melhor o que se passava dentro da cabeça do filho João Lucas, hoje com 9 anos de idade.
Mesmo com todas as características que levaram a mãe a desconfiar que o filho tinha TDAH, foi preciso passar por algumas etapas com ajuda de professores, psicólogos e psiquiatra, até ter o diagnóstico fechado.
“Na escola começaram a fazer vários testes com ele porque quando a professora procurava na sala, ele já tinha saído. Então a professora sempre estava dando alguma tarefa pra tentar deixar ele mais focado, entretido, mas era difícil”, diz Paola Maia, mãe de João Lucas.
Segundo o pediatra e especialista em TDAH, Saulo Serrano, o diagnóstico precoce é importante para traçar as estratégias com os pais e profissionais e ajudar no desenvolvimento da criança, o que pode ser decisivo para a vida toda.
“A gente faz o diagnóstico baseado nos critérios do manual chamado DSM, que é o manual de transtornos da Academia Americana de Psiquiatria. A criança precisa ter essas características relacionadas à desatenção, hiperatividade e impulsividade e também ter condicionantes. Esses sintomas começarem antes dos 12 anos de idade. Esse quadro levar a prejuízos funcionais seja no dia a dia social, seja na parte acadêmica profissional e não ser explicado por outro transtorno psiquiátrico”, afirma o pediatra Saulo Serrano.
Estima-se que mais da metade das crianças e adolescentes com TDAH vão chegar à vida adulta com alguns dos sintomas de desatenção e hiperatividade, o que pode impactar na dificuldade de organizar e planejar projetos e até atividades do dia a dia, como explica o psiquiatra Amaury Cantalini.
“O tratamento do TDAH sem dúvida muda uma história. São pessoas que eventualmente tinham muita dificuldade acadêmica, dificuldade de se manter em trabalhos, dificuldades sociais por causa dos comportamentos que o TDAH pode levar e que com o tratamento acabam tendo uma melhor performance acadêmica, acabam conseguindo galgar posições que são condizentes com o seu potencial em termos de inteligência e também reduzindo uma série de complicações que o TDAH está envolvido”.
TDAH na vida adulta
Aos 33 anos, Natália Gomes convive com um turbilhão de emoções. Como ela mesma define são loopings, altos e baixos de ansiedade e depressão. No caso dela, o TDAH é um desafio que começou ainda na infância e permanece na vida adulta, afetando inclusive as relações interpessoais.
“A vida inteira nesse processo, por exemplo: Eu tenho um compromisso às 8h da manhã. Eu acordo às 6h, plena, achando que vai dar tudo certo, mas aí acaba que eu me perco nas horas, quando eu vejo já está muito perto e lá vai pegar Uber ao invés de pegar ônibus porque eu perdi o horário. Ultimamente eu faço tratamento de terapia pela Universidade Federal da Paraíba na Clínica de Psicologia, mas eu sinto falta de um atendimento mais em prol do meu transtorno”.
Dona Nilza Gomes, mãe de Natália, demorou para entender a complexidade do transtorno e precisou de paciência para conseguir lidar com o comportamento da filha. Hoje ela faz de tudo para ajudar a filha em atividades simples como arrumar a casa.
Medicação, orientações especializadas e meios de inclusão multidisciplinares são caminhos que ajudam as pessoas com TDAH, mas cada caso precisa ser avaliado de forma individual. Foi a partir da experiência de vida com TDAH que Yuri Maia resolveu estudar profundamente o assunto.
O administrador de empresas criou um canal na internet e hoje compartilha conteúdos para ajudar outras pessoas com o transtorno. Além disso, Yuri também é fundador do Instituto TDAH, que luta pelos direitos de quem tem o transtorno e escreveu o livro “Tudo o que os pais devem saber para ajudar seus filhos”.
“Meu histórico de TDAH começou aos 7 anos de idade, quando na alfabetização eu enfrentei muitos problemas. Não conseguia me concentrar, parar quieto, não conseguia copiar do quadro. Nos meus cadernos não tinham mais do que 3 ou 4 linhas copiadas. Na adolescência a coisa foi se arrastando e tive inclusive impactos com a questão da autoestima e a coisa só começou a mudar quando por volta dos 30 anos de idade quando eu entendi a questão do TDAH, fiz uma profunda terapia. Em 2015 quando comecei a entender que o TDAH estava por trás de cada uma dessas derrotas que eu tive, de todas essas dificuldades que tive ao longo da vida, criei o canal ‘TDAH Descomplicado’ pra compartilhar as minhas dificuldades diárias e como eu faço para vencer cada um desses obstáculos”.
Ter acesso ao diagnóstico e tratar o TDAH na infância ou na vida adulta é aprender a conviver com as distrações e encontrar um jeito de seguir adiante, mesmo com tudo acontecendo ao mesmo tempo.